Quantas vezes em silêncio me pergunto
O sentido de estarmos neste mundo
Embora tal pergunta seja assunto
Dos filósofos em seu labor profundo...
Que por sinal não chegaram a um acordo
Já que tudo permanece misterioso:
A vida, a morte, a dor, o riso e o gozo,
A cotovia e o rouxinol... e ainda o tordo.
Mas, ai de mim, de nós, da humanidade!
Como cegos tateamos sob o céu
E, laboriosos, erigimos a cidade
Como outrora a grande torre de Babel
(da qual perpetuamos arremedos),
Orgulhoso monumento aos nossos medos.
12/04/2006
Notas
*...A cotovia e o rouxinol... - este curioso verso é uma graciosa alusão ao famoso diálogo de Romeu e Julieta ao despertar de sua noite de núpcias, lá como aqui exemplo das dúvidas que o amor suscita como ingênua artimanha para perpetuar-se. Quanto ao adendo "e ainda o tordo", além de boa rima trata-se de uma maneira hábil poeticamente de sugerir que tudo, toda a natureza, é um mistério.
*Orgulhoso monumento aos nossos medos- A torre de Babel, considerada um símbolo universal do orgulho humano, é aqui associada ao Medo, o que me parece bastante sutil.(Lucia Welt)