Meu sonho de guria era real:
Eis-me aqui, poeta em plenitude.
Mas ao vivê-lo, eu vejo quão fatal
É ter um sonho chegado à completude!
Posso enxergar em mim, o dom das Parcas,
Meu Presente, Passado, e meu Futuro,
E neste, pouco além, meu próprio Muro,
Que dos três na palma tenho as marcas.
Mas, bah! por justamente tudo ver,
Muito embora por todos sendo amada,
É que é maior a dor de se viver...
Pois meu dom é ironia do Destino:
No cerne do meu ser (que desatino!)
Cassandra de mim mesma... ignorada.
08/12/2006
Este blog é reservado àquela parcela dos sonetos de Alma Welt que contém suas indagações (e também suas certezas) sobre a Vida, a Morte e o mistério do existir.
A Morte
domingo, 25 de janeiro de 2009
domingo, 18 de janeiro de 2009
Abadia na floresta de carvalhos, de Caspar David Friedrich ( de Alma Welt)
Abadia na floresta de carvalhos, de Caspar David Friedrich 1774-1840
Aqui estive eu, nesta abadia
Em ruínas em meio aos desgalhados
E retorcidos carvalhos de agonia
Entre túmulos esparsos, semeados.
Andei com estes monges no seu frio,
E conheço a solidão destas paragens,
Tão longe dos sonhos que ainda crio,
Tão próxima da Morte em sua imagem.
De nós mesmos, da terra e do ar
(não há o que dizer, o que cantar),
Aqui o silêncio vem de dentro.
Eu vi o portal que ainda me espera
E por onde passarei à outra esfera
Para atingir do Mistério o pleno centro...
Alma Welt
(sem data)
A Ilha dos Mortos de Boecklin (de Alma Welt)
A Ilha dos Mortos- pintura célebre de Arnold Boecklin 1827-1901, uma das cinco versões que o pintor fez desse tema.
A Ilha dos Mortos de Boecklin (de Alma Welt)
Não pare de remar, ó meu barqueiro!
Faça jus à soma que lhe pago,
Não hesite perante o nevoeiro
Que já desce saudando o que aqui trago.
Ajude-me também co’este caixão
Pois sozinha não poderei plantá-lo
Num nicho desta ilha em solidão
Com somente minha dor a acompanhá-lo.
Ilha Fatal, eis que sou tripla refém,
De pé na proa, como tu a me alçar
Das águas que ousei atravessar
Desse Letes obscuro em que vogamos,
Com meu próprio caixão que me contém,
Nós três: um só, no barco que remamos...
18/01/2007
Nota
Acabo de descobrir este soneto na arca da Alma e que pela data foi escrito na antevéspera da morte da Poetisa. De profundo teor alegórico-metafísico, Alma parece ter interpretado o famoso quadro do Boecklin, que lhe inspirou o soneto, com o barqueiro, a figura de pé na proa e mais o morto dentro do caixão como sendo três faces do mesmo ser: o morto que chega por seus próprios meios à Ilha da Solidão. (Lucia Welt)
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