A vida, meu amigo, é tão estranha
Que não fosse o risco de uma rima
Eu diria que é a teia de uma aranha
E no centro está aquela que dizima.
Ou então que a vida é uma aventura
Num trem fantasma de verdade
Em que os companheiros de tortura
Vão sumindo a cada feia novidade.
Ou ainda que a vida é uma trapaça
E que somos nós o trapaceiro
Vendedor de elixires de cachaça
Para nós e até para os amados
A quem amor juramos, verdadeiro,
Quando mal suportamos nossos Fados.
(sem data)
Nota
Acabo de descobrir este notável soneto inédito na Arca da Alma, que muito me fez rir, e que vou imediatamente postar no blog específico dessa vertente da Poetisa: o dos Sonetos Humorísticos da Alma. (Lucia Welt)
Este blog é reservado àquela parcela dos sonetos de Alma Welt que contém suas indagações (e também suas certezas) sobre a Vida, a Morte e o mistério do existir.
A Morte
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Ariadne em Náxos (de Alma Welt)
Ariadne em Náxos- pintura de John William Waterhouse (escola inglesa do século XIX)
Não temos planta baixa desta vida,
Suas câmaras, alcovas, confusão.
Uma aposta errada ou indevida
Põe tudo a perder e sem perdão.
Alguma lógica a nós perceptível
É a do encadear de circunstâncias
Que vemos perscrutando o fio sensível
Que atravessa nosso dédalo de ânsias,
Como aquele da Ariane sem dedal,
Alinhavados como ela ao ser amado,
Pasmo herói confuso e... enrolado,
Pois encontrar a completude original
Numa Náxos aberta e sem volutas,
Eis o nexo, afinal, das nossas lutas.
06/04/2005
Nota
Acabo de encontrar neste domingo, na Arca da Alma, este notável soneto inédito, um tanto filosófico, e a que não falta um toque do humorismo peculiar da Poetisa, cheia de referências, ilações e até trocadilhos. (Lucia Welt)
Por curiosidade republico aqui um outro soneto de mesmo título pertencente ao ciclo Sonetos Mitológicos da Alma, em que a Poetisa aborda o tema de maneira bem diferente, mas igualmente humorística:
Ariadne em Náxos (de Alma Welt)
( Dionisos )
3
Nesta Náxos, perdida, abandonada
Fui por Teseu logo esquecida,
Ou então foi a vela, assim, quadrada,
Que não pode interromper sua partida.
Por isso, ou razões da deusa Ananke
Fiquei a Zeus dará, meio perdida,
Com o fluir do meu destino assim estanque,
A ver crescer meu ventre, embevecida.
Até que o deus alegre, brincalhão,
Aportou nesta Náxos sem nexo
Trazendo um grande falo, como sexo
De madeira, polido, ornamentado,
Com correias preso, pendurado,
E pediu-me que o servisse... esse bufão!
Mariposas (de Alma Welt)
Eu costumava olhar as mariposas
Efeméridas* fugazes no seu cio,
Dançando a doce dança das esposas
Enquanto eu meditava no que crio,
Se vale mesmo a pena de criar
Tanto verso e tanto sonho em vão,
Já que a vida é um breve despertar
No meio da infinita escuridão.
Ou, se poeta, estou fora do mundo
Pois os seres vêm só para amar
E dar à luz um outro mais fecundo.
E se na festa dessa roda de Sansara,
O artista é só o flash que dispara,
Capturando sem jamais participar...
16/08/2005
Nota
Efeméridas- uma espécie de mariposas cujo ciclo completo de vida: nascimento, crescimento, vôo nupcial, procriação e morte, dura apenas um dia.
Efeméridas* fugazes no seu cio,
Dançando a doce dança das esposas
Enquanto eu meditava no que crio,
Se vale mesmo a pena de criar
Tanto verso e tanto sonho em vão,
Já que a vida é um breve despertar
No meio da infinita escuridão.
Ou, se poeta, estou fora do mundo
Pois os seres vêm só para amar
E dar à luz um outro mais fecundo.
E se na festa dessa roda de Sansara,
O artista é só o flash que dispara,
Capturando sem jamais participar...
16/08/2005
Nota
Efeméridas- uma espécie de mariposas cujo ciclo completo de vida: nascimento, crescimento, vôo nupcial, procriação e morte, dura apenas um dia.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
O canal (de Alma Welt)
Trago a suspeita em que me encano,
De que a vida sempre foi desconfortável
Para o desamparado ser humano
Pois a morte permanece indecifrável.
Ser feliz só é possível ao bobo-alegre
E também ao de baixa consciência
Ou que de além-mundos tenha a febre
Para mascarar tanta impotência.
Pois tal fobia é visível na Natura
Desde que o animal exibe o medo
Na vã corrida, queda, e captura.
E ninguém quer morrer, nem no final,
Com um pé sobre o outro no penedo
Enquanto sobe a maré deste canal...
De que a vida sempre foi desconfortável
Para o desamparado ser humano
Pois a morte permanece indecifrável.
Ser feliz só é possível ao bobo-alegre
E também ao de baixa consciência
Ou que de além-mundos tenha a febre
Para mascarar tanta impotência.
Pois tal fobia é visível na Natura
Desde que o animal exibe o medo
Na vã corrida, queda, e captura.
E ninguém quer morrer, nem no final,
Com um pé sobre o outro no penedo
Enquanto sobe a maré deste canal...
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