As coisas todas falam de algum modo
A linguagem do indizível e inaudito
Dentro do silêncio com que rodo
Os olhos ao redor ou com que fito
Para encontrar o elo que as liga
Nesse imenso discurso natural
Livre da malícia e da intriga,
Do tal pecado isenta e do mal
Ausente do espaço entre os astros
Que mal podemos conceber em anos-luz
Pois que temos contados nossos passos
Com nossa pequenez esbravejante
E toda essa empáfia que a conduz
A carregar o mundo qual atlante...
Este blog é reservado àquela parcela dos sonetos de Alma Welt que contém suas indagações (e também suas certezas) sobre a Vida, a Morte e o mistério do existir.
A Morte
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
O pó e a luz (de Alma Welt)
O pó tem sua essência revelada
Quando dança na luz filtrada em frestas.
Para o grego era a alma figurada
Que nos cobre o mundo e as arestas.
É um consolo saber que tudo vive,
O mistério preenche-lhe o vazio,
E o nada, pavor que sempre tive,
Seria a razão mesma do que crio...
Pois saber quão pouco conhecemos
Nos dá esperança de sentido
Nesta vida às cegas que vivemos.
Assim, é bem possível vida eterna
E até um paraíso prometido
Na pequenina luz de uma lanterna...
04/12/2005
Quando dança na luz filtrada em frestas.
Para o grego era a alma figurada
Que nos cobre o mundo e as arestas.
É um consolo saber que tudo vive,
O mistério preenche-lhe o vazio,
E o nada, pavor que sempre tive,
Seria a razão mesma do que crio...
Pois saber quão pouco conhecemos
Nos dá esperança de sentido
Nesta vida às cegas que vivemos.
Assim, é bem possível vida eterna
E até um paraíso prometido
Na pequenina luz de uma lanterna...
04/12/2005
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
A Lição de Hesse (de Alma Welt)
Viver no mundo, como nele não estar;
Respeitar a lei e os costumes
Conquanto bem acima se alçar
E ter só nos artistas os meus numes...
Foi isso que aprendi com Hermann Hesse,
Mas não só os escritores o ensinam.
Também, é preciso que eu confesse,
Os que uma má pintura não assinam.
Assim, criar acima do viver,
Mas não esquecendo que o humor
É a suprema criação do humano ser,
Que o artista tem quando é fecundo,
Uma concessão feita de amor,
E consiste num fingir estar no mundo...
(sem data)
Respeitar a lei e os costumes
Conquanto bem acima se alçar
E ter só nos artistas os meus numes...
Foi isso que aprendi com Hermann Hesse,
Mas não só os escritores o ensinam.
Também, é preciso que eu confesse,
Os que uma má pintura não assinam.
Assim, criar acima do viver,
Mas não esquecendo que o humor
É a suprema criação do humano ser,
Que o artista tem quando é fecundo,
Uma concessão feita de amor,
E consiste num fingir estar no mundo...
(sem data)
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
O cristal do poema (de Alma Welt)
Sabemos que o poeta não tem fim
E fica vicejando eternamente,
Não porque não morra ou coisa assim,
Mas porque o que lança é a semente.
Pois o poema em si morre e se refaz
No pensamento vivo que o defronta,
Como uma alma que não tendo paz
Volta porque ainda não está pronta.
Assombrados então pelo poema
Convivemos com mundos perdidos
De palavras e seu pródigo sistema
De trazer-nos o espelho das idades
Pra que possamos ver-nos refletidos
No cristal terrível das verdades...
(sem data)
E fica vicejando eternamente,
Não porque não morra ou coisa assim,
Mas porque o que lança é a semente.
Pois o poema em si morre e se refaz
No pensamento vivo que o defronta,
Como uma alma que não tendo paz
Volta porque ainda não está pronta.
Assombrados então pelo poema
Convivemos com mundos perdidos
De palavras e seu pródigo sistema
De trazer-nos o espelho das idades
Pra que possamos ver-nos refletidos
No cristal terrível das verdades...
(sem data)
terça-feira, 7 de setembro de 2010
O Propósito (de Alma Welt)
Meu propósito não é senão poesia
E nada mais desejo senão isso:
Tornar-me o que cedo eu antevia,
A palavra e seu grande compromisso
Através de uma vida de labor,
Polindo em filigrana o verso fino
Para corresponder em forma e cor
A um alto modelo mais divino.
Passar a caravana enquanto latem
Ou mesmo dedicar-me às firulas
Enquanto os mil aflitos se debatem
Não é bem o que faço, com certeza.
Se assim pensas que vivo, tu me anulas,
Creio buscar, senão a luz, uma clareza...
(sem data)
E nada mais desejo senão isso:
Tornar-me o que cedo eu antevia,
A palavra e seu grande compromisso
Através de uma vida de labor,
Polindo em filigrana o verso fino
Para corresponder em forma e cor
A um alto modelo mais divino.
Passar a caravana enquanto latem
Ou mesmo dedicar-me às firulas
Enquanto os mil aflitos se debatem
Não é bem o que faço, com certeza.
Se assim pensas que vivo, tu me anulas,
Creio buscar, senão a luz, uma clareza...
(sem data)
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
A Linguagem de Deus (Alma Welt)
Estar com o poema, em sintonia,
Que existe palpitando sob tudo,
Que tudo é matéria de Poesia,
Que nada é opaco, inerte ou mudo...
Aos olhos do Poeta sob o céu
As coisas falam ainda, e o coração,
A linguagem primeva de Babel,
Aquela mesma anterior à confusão.
Eis a nossa sedução de filhos pródigos
Que buscam o pai malgrado os danos
Causados às terras e aos códigos!..
Nos recompomos na língua verdadeira,
(que Deus deixou um rabo da primeira)
Pr’ Ele mesmo entender o que falamos.
10/01/2007
Que existe palpitando sob tudo,
Que tudo é matéria de Poesia,
Que nada é opaco, inerte ou mudo...
Aos olhos do Poeta sob o céu
As coisas falam ainda, e o coração,
A linguagem primeva de Babel,
Aquela mesma anterior à confusão.
Eis a nossa sedução de filhos pródigos
Que buscam o pai malgrado os danos
Causados às terras e aos códigos!..
Nos recompomos na língua verdadeira,
(que Deus deixou um rabo da primeira)
Pr’ Ele mesmo entender o que falamos.
10/01/2007
sábado, 4 de setembro de 2010
A Poetisa (de Alma Welt)
Então vede como a Poetisa nasce!
Seu estro do Nada não brotou,
Mergulhada que tem a sua face
Na Alma do Mundo que espelhou.
Ela sou eu, tu és e somos nós...
Sua alma está em nós disseminada,
Tanto mais que paga o preço atroz
De ter a sua existência duvidada.
Mas ao debruçar-se sobre o verso
Nas horas de prazer ou de agonia
Descobriu seu consolo no adverso...
Pois se muito sofre quem amou,
Mais beleza planta quem a cria
E torna-se ela própria o que criou...
(sem data)
Seu estro do Nada não brotou,
Mergulhada que tem a sua face
Na Alma do Mundo que espelhou.
Ela sou eu, tu és e somos nós...
Sua alma está em nós disseminada,
Tanto mais que paga o preço atroz
De ter a sua existência duvidada.
Mas ao debruçar-se sobre o verso
Nas horas de prazer ou de agonia
Descobriu seu consolo no adverso...
Pois se muito sofre quem amou,
Mais beleza planta quem a cria
E torna-se ela própria o que criou...
(sem data)
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Testemunho (de Alma Welt)
Dar o testemunho meu de vida,
A mim mesma parecia pretensão
Conquanto já estivesse resolvida
A registrar cada passo neste chão.
E cada pensamento ou devaneio
Deveria fixar como sagrado
E nada me seria então alheio
E eu seria tudo o que é pensado.
Pois ser é infinito, sem limite
Se podemos o todo em tudo ver
E o inefável apresenta seu convite...
A beleza de tudo é coisa séria
Quando libertamos nosso ser
Do próprio desprezo da matéria...
A mim mesma parecia pretensão
Conquanto já estivesse resolvida
A registrar cada passo neste chão.
E cada pensamento ou devaneio
Deveria fixar como sagrado
E nada me seria então alheio
E eu seria tudo o que é pensado.
Pois ser é infinito, sem limite
Se podemos o todo em tudo ver
E o inefável apresenta seu convite...
A beleza de tudo é coisa séria
Quando libertamos nosso ser
Do próprio desprezo da matéria...
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