Quantas vezes em silêncio me pergunto
O sentido de estarmos neste mundo
Embora tal pergunta seja assunto
Dos filósofos em seu labor profundo...
Que por sinal não chegaram a um acordo
Já que tudo permanece misterioso:
A vida, a morte, a dor, o riso e o gozo,
A cotovia e o rouxinol... e ainda o tordo.
Mas, ai de mim, de nós, da humanidade!
Como cegos tateamos sob o céu
E, laboriosos, erigimos a cidade
Como outrora a grande torre de Babel
(da qual perpetuamos arremedos),
Orgulhoso monumento aos nossos medos.
12/04/2006
Notas
*...A cotovia e o rouxinol... - este curioso verso é uma graciosa alusão ao famoso diálogo de Romeu e Julieta ao despertar de sua noite de núpcias, lá como aqui exemplo das dúvidas que o amor suscita como ingênua artimanha para perpetuar-se. Quanto ao adendo "e ainda o tordo", além de boa rima trata-se de uma maneira hábil poeticamente de sugerir que tudo, toda a natureza, é um mistério.
*Orgulhoso monumento aos nossos medos- A torre de Babel, considerada um símbolo universal do orgulho humano, é aqui associada ao Medo, o que me parece bastante sutil.(Lucia Welt)
Este blog é reservado àquela parcela dos sonetos de Alma Welt que contém suas indagações (e também suas certezas) sobre a Vida, a Morte e o mistério do existir.
A Morte
domingo, 7 de setembro de 2008
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
O espelho do ser (de Alma Welt)
Hoje olhei no espelho e vi meu ser,
Quero dizer, a face minha oculta,
Aquela que costuma se esconder
E que não pertence à vida culta:
O ser primevo, o mito primitivo,
Eco primal do grito, não vagido,
Que o homem lançou e foi ouvido
Pela Natura num recuo intuitivo.
Eis o animal de Deus marcado
C’o sinal de distinção no fundo olhar,
Na fronte ereta onde repousa o fado!
E ao mirar assim meus belos olhos
Na profunda superfície dos abrolhos,
Tive medo de mim como de um mar...
(sem data)
Quero dizer, a face minha oculta,
Aquela que costuma se esconder
E que não pertence à vida culta:
O ser primevo, o mito primitivo,
Eco primal do grito, não vagido,
Que o homem lançou e foi ouvido
Pela Natura num recuo intuitivo.
Eis o animal de Deus marcado
C’o sinal de distinção no fundo olhar,
Na fronte ereta onde repousa o fado!
E ao mirar assim meus belos olhos
Na profunda superfície dos abrolhos,
Tive medo de mim como de um mar...
(sem data)
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Não cantarei de amor... (de Alma Welt)
Não cantarei de amor mais do que o faço
Ao contar a saga do meu ego
E as estrepolias com que traço
Meu rumo e o sonho a que me entrego
Ao simplesmente viver a minha vida
Com toda a intensidade da alegria
E a louca intimidade compartida
Com tantos (que jamais me encolheria).
Assim, cantando-me a mim mesma,
Ouvi alhures: “Ah! Ególatra sublime...”
Como se isso fora um abantesma...
Até (pasmem!) compreender que ao fazê-lo
Meus versos pertenciam a certo time
Que tem em Wordsworth seu modelo...
06/02/2004
Ao contar a saga do meu ego
E as estrepolias com que traço
Meu rumo e o sonho a que me entrego
Ao simplesmente viver a minha vida
Com toda a intensidade da alegria
E a louca intimidade compartida
Com tantos (que jamais me encolheria).
Assim, cantando-me a mim mesma,
Ouvi alhures: “Ah! Ególatra sublime...”
Como se isso fora um abantesma...
Até (pasmem!) compreender que ao fazê-lo
Meus versos pertenciam a certo time
Que tem em Wordsworth seu modelo...
06/02/2004
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Odisseu (de Alma Welt)
"Somos para a Morte", disse alguém,
E desde então eu me pus a meditar,
Coisa inusitada para quem
Todas as dádivas vieram se somar.
A beleza é vã, efêmera, fugaz,
Diz Matilde, o que a Mutti já dizia,
E eu desconfio que apesar de pertinaz,
Tal pensamento deriva da apatia.
Ah! Odisseu, meu grego predileto,
Que disseste (e por isso foste honrado)
O quê é o homem? Cabal, doido completo
Que se acaba com um simples resfriado
E que no entanto, aqui como em Elêusis,
É capaz de afrontar os próprios deuses!
09/07/2006
E desde então eu me pus a meditar,
Coisa inusitada para quem
Todas as dádivas vieram se somar.
A beleza é vã, efêmera, fugaz,
Diz Matilde, o que a Mutti já dizia,
E eu desconfio que apesar de pertinaz,
Tal pensamento deriva da apatia.
Ah! Odisseu, meu grego predileto,
Que disseste (e por isso foste honrado)
O quê é o homem? Cabal, doido completo
Que se acaba com um simples resfriado
E que no entanto, aqui como em Elêusis,
É capaz de afrontar os próprios deuses!
09/07/2006
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Poetas! meus irmãos... (de Alma Welt)
Poetas! meus irmãos, lhes agradeço
A existência imensa que transbordam
Para esta Alma aqui em seu começo
De mundo, e da obra que me acordam
Pois que, poeta ergui-me, por quê não?
Me deram seu tesouro ainda pequena
Com sua magia que logo me fez plena
De riquezas, malgrado a solidão.
E agora, ombreando, lado a lado,
Não contenho meu orgulho como par
Deste reino de prazer puro e alado
Mas também de dor pungente e inaudita
Cuja volúpia está em se cantar
A beleza do homem em sua desdita...
29/11/2006
A existência imensa que transbordam
Para esta Alma aqui em seu começo
De mundo, e da obra que me acordam
Pois que, poeta ergui-me, por quê não?
Me deram seu tesouro ainda pequena
Com sua magia que logo me fez plena
De riquezas, malgrado a solidão.
E agora, ombreando, lado a lado,
Não contenho meu orgulho como par
Deste reino de prazer puro e alado
Mas também de dor pungente e inaudita
Cuja volúpia está em se cantar
A beleza do homem em sua desdita...
29/11/2006
domingo, 27 de julho de 2008
Dúbios domingos (de Alma Welt)
Tenho com os domingos dúbia liga
Pois embora ensolarados em essência
Me fazem ver do Tempo a vã carência
E a tal fugacidade, ó minha amiga.
A contagem domingueira se revela
Ultimamente regressiva e voraz
Embora eu seja jovem, viva e bela,
Já me vejo saudosa a olhar pra trás.
Eis que me sinto assim contemplativa,
Que nunca fui alguém que muito chore,
E me ponho a vagar como uma diva
A colher florzitas como a Core
No seio claro desta natureza viva
Antes que o escuro solo me devore.
28/11/2006
Pois embora ensolarados em essência
Me fazem ver do Tempo a vã carência
E a tal fugacidade, ó minha amiga.
A contagem domingueira se revela
Ultimamente regressiva e voraz
Embora eu seja jovem, viva e bela,
Já me vejo saudosa a olhar pra trás.
Eis que me sinto assim contemplativa,
Que nunca fui alguém que muito chore,
E me ponho a vagar como uma diva
A colher florzitas como a Core
No seio claro desta natureza viva
Antes que o escuro solo me devore.
28/11/2006
quinta-feira, 26 de junho de 2008
O recurso Münchhausen (de Alma Welt)
Ilustração de Gustave Doré para As Aventuras do Barão de Münchhausen.
Como viver depois de ter vivido
Não o amor mas horror do coração
Após golpe, desonra, humilhação
Ou violação da carne sem sentido?
Como viver com o sonho desfeito
Do que era a própria imagem do viver?
Cair das nuvens ou mesmo desse leito
Onde se foi feliz, e não morrer?
Bah! Há que puxar-se por cabelos
Da alma como o lance do barão
Que afundava só e sem apelos
No poço de uma movediça lama,
E com o baio magro da razão
Alçar-se bem acima dessa cama!
08/03/2002
segunda-feira, 16 de junho de 2008
O fio da navalha (de Alma Welt)
Quando penso nos lances que vivi,
Vejo que já estavam em meu destino
E ao passar por eles revivi
Um trajeto antigo e muito fino:
Uma espécie de fio de uma navalha
Em que caminhamos entre abismos
Para subir ao Olimpo ou ao Walhalla
Ou alguns que tais paroxismos.
E depois do caminho percorrido
Quase divididos pelo fio
Chegamos ao plano prometido
Um enorme e belo prado ondulado
Pelo Letes cortado, aquele rio,
E teremos a nós mesmos alcançado.
09/06/2006
Vejo que já estavam em meu destino
E ao passar por eles revivi
Um trajeto antigo e muito fino:
Uma espécie de fio de uma navalha
Em que caminhamos entre abismos
Para subir ao Olimpo ou ao Walhalla
Ou alguns que tais paroxismos.
E depois do caminho percorrido
Quase divididos pelo fio
Chegamos ao plano prometido
Um enorme e belo prado ondulado
Pelo Letes cortado, aquele rio,
E teremos a nós mesmos alcançado.
09/06/2006
segunda-feira, 10 de março de 2008
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Paradoxo (de Alma Welt)
Meus sonhos, eu sei, persistirão
Bastando que eu os ponha no soneto:
Pensamento e palavra em comunhão
A partir de um impulso ou um moteto.
Ficarão eternizados se eu quiser
Meus minutos sagrados de existência,
Mas isso ocorrerá só se eu tiver
Capturado o tom e a essência
De cada aparente vão momento
Que a tantos escorrem pelos dedos
Ou caem pelos vãos do pensamento.
Registrar cabe ao poeta, na verdade,
No poema até mesmo enganos ledos
Como a própria ilusão de eternidade...
05/12/2006
Este hábil e curioso soneto que por sabedoria sugere o paradoxo da função do artista, foi encontrado inédito recentemente na arca da Alma, e não compreendo como ela não o publicou no LL ou no RL, pois é exemplar de seu pensamento idealista e profundo. (Lucia Welt)
Bastando que eu os ponha no soneto:
Pensamento e palavra em comunhão
A partir de um impulso ou um moteto.
Ficarão eternizados se eu quiser
Meus minutos sagrados de existência,
Mas isso ocorrerá só se eu tiver
Capturado o tom e a essência
De cada aparente vão momento
Que a tantos escorrem pelos dedos
Ou caem pelos vãos do pensamento.
Registrar cabe ao poeta, na verdade,
No poema até mesmo enganos ledos
Como a própria ilusão de eternidade...
05/12/2006
Este hábil e curioso soneto que por sabedoria sugere o paradoxo da função do artista, foi encontrado inédito recentemente na arca da Alma, e não compreendo como ela não o publicou no LL ou no RL, pois é exemplar de seu pensamento idealista e profundo. (Lucia Welt)
sábado, 19 de janeiro de 2008
Profissão de fé (de Alma Welt)
Quando criança, o amor já desejava
E sonhando construía meus enredos;
Tornar-me escritora eu almejava,
Ser poeta e espalhar os meus segredos.
Ser pura, secreta e desbragada;
Confessional pelo mais puro pudor,
Abrir o coração, e, alargada,
Conter o essencial do meu amor:
Aquilo que devora e me conserva
Jovem para sempre enquanto morro
Um pouco a cada dia que percorro.
E assim, da Natureza alegre serva,
Manter do coração a chama eterna,
Heróica, ao sol acesa a vã lanterna.
E sonhando construía meus enredos;
Tornar-me escritora eu almejava,
Ser poeta e espalhar os meus segredos.
Ser pura, secreta e desbragada;
Confessional pelo mais puro pudor,
Abrir o coração, e, alargada,
Conter o essencial do meu amor:
Aquilo que devora e me conserva
Jovem para sempre enquanto morro
Um pouco a cada dia que percorro.
E assim, da Natureza alegre serva,
Manter do coração a chama eterna,
Heróica, ao sol acesa a vã lanterna.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Da verdade irredutível do ser (de Alma Welt)
Às vezes penso que fui longe demais
Em contar tudo, tudo o que me vem
Na mente, na vida, e muito mais,
Porque sempre se pode ir além...
Pois tudo o que dizemos nos pertence
E sai dentro de nós e é verdade,
Não há como dizer “isto me vence”,
É tudo parte da nossa liberdade
De optar, apreender, reter, assimilar,
Que de nossa escolha nasce e raia
O ser que, construído, vamos dar
Ao mundo, ao outro, a quem se importe,
Àqueles a quem formos dar à praia
Como náufragos que somos para a Morte!
13/01/2007
Em contar tudo, tudo o que me vem
Na mente, na vida, e muito mais,
Porque sempre se pode ir além...
Pois tudo o que dizemos nos pertence
E sai dentro de nós e é verdade,
Não há como dizer “isto me vence”,
É tudo parte da nossa liberdade
De optar, apreender, reter, assimilar,
Que de nossa escolha nasce e raia
O ser que, construído, vamos dar
Ao mundo, ao outro, a quem se importe,
Àqueles a quem formos dar à praia
Como náufragos que somos para a Morte!
13/01/2007
Assinar:
Postagens (Atom)