A Morte

A Morte
óleo s/tela de Guilherme de Faria 1967

domingo, 7 de outubro de 2007

Soneto Pedante (de Alma Welt)

(37)

Como disse Calderón a vida é sonho,
Continuo inclinada a acreditar...
Tudo é miragem para nos mesmerizar
Como o fazia Mesmer, doutor bisonho.

Na verdade o ser humano só foi feito
Da onírica matéria de Miranda
Que em meio à tempestade ainda desanda
A fazer ressoar frases de efeito

Pois saudou o admirável mundo novo
Que o Aldous captou entre os ateus
Projetando melhorar o pobre povo

Mas sonhar com a Natureza ainda prefiro,
Como Jâmblico, discípulo de Porfírio,
O sonho que ela tem do próprio Deus...


19/12/2006


Notas do editor

(Pelo título auto-crítico percebe-se que Alma quis ressaltar o caráter humorístico desse seu curioso soneto.)

*Calderón-- O grande escritor barroco espanhol Pedro Calderón de La Barca
, que escreveu a notável comédia “La vida és sueño.

*Mesmer- Franz Mesmer, médico alemão( 1735-1815) fundador da teoria do magnetismo animal, precursora da prática sistematizada do hipnotismo.

*...matéria onírica de Miranda- Alma se refere a personagem da peça A Tempestade, de William Shakespeare, a linda e quase encantada filha de Próspero, duque destronado de Milão. Shakeaspeare colocou na boca deste, na peça a célebre frase: “Somos feitos da mesma matéria de que são feitos os sonhos”. Quanto a Miranda , esta pronuncia a “frase de efeito” a que Alma se refere ao final da peça, a famosa “O brave new world...”( ó admirável mundo novo...), que Aldous Huxley citou como titulo de sua obra profética “Brave New World”( no Brasil, O Admirável Mundo Novo ), em que prevê um duvidoso e controvertido planejamento genético como meio de aperfeiçoar a raça humana.

Jamblico – Alma se refere ao pouquíssimo conhecido filósofo Jamblico de Caldéia, da época do imperador romano Juliano, o Apóstata, do segundo século do cristianismo. Jamblico era discípulo de Porfírio, o neo-platônico, que por sua vez era discípulo de Plotino. Alma se refere a um maravilhoso texto de Dmitri Merejkowski em que este coloca na boca de Jamblico (diante do imperador que o procurou) um monólogo mais poético, na verdade, do que filosófico, sobre a Natureza que sonha com Deus, perpetuamente. Alma considerava este o mais belo texto que ela jamais leu.
(Lucia Welt)

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