A Morte

A Morte
óleo s/tela de Guilherme de Faria 1967

sábado, 21 de dezembro de 2013

O Olho (de Alma Welt)

                                           O Olho - pintura de Guilherme de Faria, 2013

 
O Olho (de Alma Welt)

Há um olho por aí que tudo vê
E vigia nosso oculto pensamento,

Não importa se nele ninguém crê
Pois não é da fé seu argumento.

Me refiro a um olho atento, agudo,
Real como num sonho de vigília
E que é só o companheiro mudo
Que teremos ao longo desta trilha.

Este olho fatal que não nos guia,
Dizem uns que é nossa consciência
Que nos julga depois, à revelia.

Mas do medo é a sua natureza
Por isso não louvamos sua ciência,
E vogamos ao sabor da correnteza...

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Pequena Ode ao Tempo (de Alma Welt)

O Maestro  - desenho de Guilherme de Faria, 1965
 
 
Pequena Ode ao Tempo (de Alma Welt)
 
 
Tenhamos reverência pelo Tempo
Já que ele respeita o nosso passo
Tão desigual em meio a contratempo,
Infortúnio ou só mudança de compasso.

Ele é o Senhor, é o Maestro autoritário
Todavia mesmo às vezes paternal,
Conquanto passível de humor vário
E quase sempre inflexível no final...

Sabei, senhores: o Tempo é mesmo Deus
Que o Verbo conjugou, nos complicando,
Ao criar a Nostalgia e o Adeus.

Mas o Presente é Seu fluxo visível,
O Futuro imprevisível retardando
E tornando o Amor, mesmo, possível...

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Escrever (de Alma Welt)

                                                  Poeta pobre - Carl Spitzweg 1835

Escrever (de Alma Welt)

Escrever, razão de vida suficiente
Porquanto esta emana da poesia

Já que nunca foi daquela diferente
E, pois, na ausência dela jaz vazia.

Sim, não me posso sem isto imaginar
Pois o Verbo já estava no princípio
E no final nossa vida vai fechar,
Indiferente sejamos santo ou ímpio...

Veja, Sade foi na certa perdoado
E há quem divino repute este Marquês
Difícil de engolir, pois malpassado.

No final restará sempre a Poesia
Que é como se faz, não o quê fez:
Pois nela cabe o que na vida mal cabia...

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O Destino (de Alma Welt)


Nossa vida faz patético percurso
Até aquela final nota de ironia, 

Das cartas sempre o último recurso
Pra velar sua vocação que é a poesia.

Tenho medo da leitura da cigana,
Conquanto muitas vezes enganosa,
Quando lendo nossa vida nos engana,
Pensa dar gato e dá poesia pela prosa.

Da resposta não temos o tal código
Como um pai não saberá antes da hora
Se pra casa volta o filho pródigo...

Tudo é mistério: estamos às escuras,
Quem mente para a gente jamais cora,
Também não aquela face que procuras...

domingo, 23 de junho de 2013

O Silêncio das Esferas (de Alma Welt)


Eu quis sempre admirar-me de mim mesma,
Isso foi meu escopo ou minha meta.
Versos por mês: ao menos uma resma...
Talvez menos poetisa que pateta.

A quem? Por quê? Pra quê? Mas quem se importa?
O mundo, sempre o mundo, no meu nome,
Tudo a que a memória se reporta,
E que é pra onde vai a nossa fome...

Mas viemos das estrelas encantadas,
Para onde voltaremos certamente,
E vejam como elas são caladas!

O silêncio surdo das esferas,
Distante do rumor da tua mente
Que indaga, perscruta, e te exasperas...

sexta-feira, 22 de março de 2013

Poiesis (de Alma Welt)

Cercada estou dos meus velhos fantasmas
Que me são gratificantes, eu confesso.
Não são eles que povoam minhas asmas
Mas a minha alma, obra em processo.

Pois com eles me ligo a uma corrente
Dos séculos e dos seus grandes segredos
Que guardo no fundo da minha mente
A fim de descobrir o fim dos medos.

Então eu os vazo nos meus versos
Através de um código discreto
Que evita os conceitos controversos.

A pura poiesis é a mensagem,
Ela é o embrião do próprio feto,
A vida está nela e não à margem...

 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A Travessia (de Alma Welt)

                                   O ataque ao moinho de vento - Ilustração de Gustave Doré

                                       

A Travessia (de Alma Welt)
 "O mundo é um moinho... " (Cartola) 

Todos nós temos corda onde agarrar,

A vida nos dá sempre uma saída
Que nos evite o risco de abismar
No medo natural da própria vida.

Por certo cada um pega o que pode:
Um amor, uma paixão ou mesmo um vício;
Um poema, um soneto ou uma ode,
Um portal com a cruz no frontispício,

Ou então, o que é pior, com um convite
Para entrar mas deixando a Esperança, *
Última paz que o mundo nos permite... *

Mas pra saíres vivo do moinho,
Não como Don Quixote e Sancho Pança,
Terás que atravessar a ti sozinho...
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domingo, 6 de janeiro de 2013

Sinopse (de Alma Welt)

Os poentes me devolvem a guria
Reverente e humilde finalmente,

E preciso contemplá-los todo dia
Para ter um parâmetro na mente.

Testemunho de Deus em ato puro
Para nós se agraciados pela fé,
Para outros é o sol atrás do muro
Do horizonte como onda de maré.

Mas para mim é o ciclo eterno,
Ou da vida abreviada trajetória
De sua primavera ao seu inverno:

Se morro todo dia também nasço,
Como uma sinopse da estória
Cujo tema é só o Tempo-Espaço...