A Morte

A Morte
óleo s/tela de Guilherme de Faria 1967

segunda-feira, 29 de março de 2010

O Ser e a Morte (de Alma Welt)

A Morte sempre envia seus sinais,
Mas o faz em código sutil,
Nem sempre com os signos fatais
Mas como um vocábulo entre mil

Mensagens que o dia nos transmite
E nos tiram da possível sintonia
Com aquele pavio de dinamite
Que, visto, faz da vida uma agonia.

Não podemos pensar, este é o jogo
Proposto ao Homem racional,
Propenso a questionar o seu malogro.

Pois se a pedra dura, e o diamante,
Por quê é o Ser, assim, alvo do mal
Que torna todo esforço irrelevante?

09/07/02006

quarta-feira, 24 de março de 2010

O plano da Vida (de Alma Welt)

Qualquer coisa vista em minha vida,
Incluindo a que existe só na mente,
Será no meu poema revivida
Para eu ser em mim mais claramente.

Que presunção! És louca, hás de convir...
Dirão aqueles que lançados na corrente
Crêem que basta estar para existir,
E que a vida a si mesma se contente.

Mas, vê: todos lançam sua semente
Porque uma vida é pouco e nos desmente,
Sejamos animal ou simples planta,

Se após tanto penar e tanta lida
Seja o plano de Deus, pra nossa Vida,
Morrer, dormir, sonhar... depois da janta.

(sem data)

terça-feira, 23 de março de 2010

Édipo (de Alma Welt)

Saber nosso lugar aqui na terra
Não é tão óbvio, simples e direto.
Alguns nascem no seu pé-de-serra
A maioria vem apenas sob um teto,

Inesquecível, sim, como cenário
Das visões primeiras, encantadas
Como aquela mancha no armário,
Um duende sorrindo para as fadas.

Mas depois começa o nosso exílio
E toda uma vida de procura
Para encontrar de novo o domicílio

Onde ocorreu em nós a ruptura.
E frente ao velho casarão estacionar,
Dizendo: Foi aqui. Cheguei, posso parar...


28/09/2006

terça-feira, 2 de março de 2010

Postfácio (de Alma Welt)

Saberei parar um dia e emudecer,
E conformar meu passo ao coração?
Olhar as profundezas do meu ser
E estar bem, ali, c’os pés no chão?

A dor se tornou arte, isso foi bom...
O poeta irá tornar-se o cisne negro
Num longamente acalentado som,
Seu solo patético e mais íntegro.

Cantei por não saber calar a vida
Neste coração que se entusiasma
Pelo belo, o puro, e mesmo a lida.

Quanto à dor, também a vejo assim:
Como um último e íntimo fantasma
A dizer: “Viva, viva, viva” até o fim...

15/01/2007