A Morte

A Morte
óleo s/tela de Guilherme de Faria 1967

domingo, 7 de outubro de 2007

Soneto antigo (de Alma Welt

(50)

O que pode um coração já impotente
Quando tudo já foi dito e feito,
E as palavras vagam no teu peito
Como as sombras de um luar ausente?

Esgotaste a quota de argumentos
E de súplicas servis ao contendor,
Esvaíste a ração de sofrimentos
E agora não tens senão rancor.

E olhas então no teu espelho
E vês que tudo estava em tua mente
E o outro nem existe, simplesmente,

Pois foi contigo mesmo que lutaste
E nada podes contra o deus-escaravelho*
Do deserto que em teu peito semeaste.

22/12/2006

Notas da editora:

*deus-escaravelho- provavelmente o símbolo do sol
dos egípcios dos tempos dos faraós, ao mesmo tempo um
símbolo do “eterno retorno”, pois os escaravelhos
do deserto rolam com as pernas traseiras uma bola
de esterco, como uma esfera ou círculo perpétuo.
Este é um dos mais enigmáticos sonetos da Alma
e esta imagem arcaica sugere a sua conotação metafísica.
A rigor, não deveria estar nos "Sonetos Pampianos",
mas entre os "Sonetos Metafísicos da Alma". (Lucia Welt)

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